Desenvolver na empresa ou comprar pronto?

Ao ponderar sobre "fazer ou comprar", as empresas devem ir além dos custos diretos e considerar a implicação estratégica a longo prazo. A decisão não é uma escolha única, mas sim uma série de decisões ao longo do tempo, moldadas pela visão da empresa e sua busca constante pela inovação. Então, de modo geral, com adequadas ponderações, iniciativas de transformação (transformation) sempre devem ser feitos em casa; iniciativas de crescimento (grow) podem ser produtos prontos; iniciativas de continuidade da operação (run) devem ser produtos de prateleira.

É uma epidemia: Quase todas as empresas dizem que precisam inovar de maneira disruptiva e exponencial. Mas acho que é muito buzzword para uma frase só. Porém, na prática, quando falamos coisas como essa, o emprego de software é quase inevitável. O artigo ‘Desenvolver na empresa ou comprar pronto?‘ explora um pouquinho a principal consequencia dessa frase, com base em um framework lançado para Gartner, mas semelhante a outros do mercado: o RGT(Run-Grow-Transform).

Então, vamos falar um pouco sobre o que deve ser levado em consideração na escolha entre construir um software internamente e manter um time de desenvolvedores versus comprar um produto de prateleira (COTS). Porém, isso nem sempre é uma decisão lógica.

Além desse artigo, no blog falamos sobre outros temas ligados à gestão, desenvolvimento, kubernetes, entre outros. Fique a vontade para conhecer mais.

Compreendendo as demandas

Primeiramente a TI recebe demandas de muitos modos diferentes. Assim, metodologias foram se sofisticando para atende-las. Então organizações diferentes precisam fazer arranjos específicos com um pouco do método X e outro pouco do método Y para atender adequadamente essas demandas. Para começar vamos falar sobre os diferentes tipos de demandas para melhor compreensão da defesa no final.

Iniciativa: é uma ação de longo prazo alinhada com os objetivos estratégicos da organização. Elas abrangem vários projetos, e por outro lado, projetos podem abranger várias iniciativas. Ela possui um caráter mais abstrato para a organização do que um projeto e orienta os C-levels sobre a evolução do plano estratégico.

Processo: é uma sequencia organizada de atividades que visa atingir objetivos específicos (como geração de valor). Ela é bem mais específica do que uma iniciativa e define a forma de trabalho de pessoas e sistemas.

Projeto: É um esforça temporário para criar um produto, serviço ou resultado único. Envolve atividades como planejamento, execução, monitoramento, controle e encerramento. Também é suportado por diversos métodos diferentes como SCRUM, XP, ou pelas orientações do PMBOK.

Serviço: é um processo estruturado para entrega contínua de valor para clientes. Imagine que o time de desenvolvimento crie um sistema: durante a criação há um projeto em curso, após pronto o sistema fica disponível como um serviço.

Produto: um produto é um entregável de um projeto potencialmente utilizável. Para muitas empresas um produto é também uma representação de uma área de negócio, que recebe contínuos incrementos geradores de valor.

Modelo RGT – Run-Grow-Transform

Esse modelo foi criado pelo Gartner para ajudar a classificar iniciativas para que sejam conduzidas da maneira mais específica e adequada. Há 3 tipos diferentes de classificação: Run the business, Grow the business e Transform the business.

Run the business

O Run do Modelo Run-Grow-Transform (RGT), tem o foco nas operações cotidianas essenciais para manter a estabilidade e a eficiência operacional. Trata-se do famoso ‘deixar as luzes acesas’ ou também conhecido como ‘business as usual’. Isso inclui a gestão eficaz da infraestrutura e operações, a manutenção de padrões de segurança e conformidade, bem como o suporte aos negócios ou áreas de backoffice.

Grow the business

Já no Grow, a ênfase se desloca para o aprimoramento e expansão das capacidades do negócio. Nesse momento as iniciativas visam estender as capacidades existentes, diferenciar a oferta e aumentar a competitividade da empresa. O diagrama abaixo é um exemplo genérico de Archimate para representar uma estratégia até as capacidades. O grow, em última instância visa assumir novas capacidades para o negócio.

Diagrama archimate que exemplifica o emprego da estratégia, dos stakeholders até as capabilities

Transform the business

E por fim o Transform: agora a atenção se volta para a inovação e a condução de mudanças significativas. Estamos falando de iniciativas com alto risco e alto retorno esperado. Novos clientes, modelos de negócios ou propostas de valor fazem parte dessa dinâmica. O CIO desempenha um papel central, colaborando de perto com os líderes de negócios para garantir que as capacidades de TI suportem efetivamente as atividades de transformação.

Do or buy: Fazer ou comprar?

Comprar ou fazer o que?

Primeiramente devemos saber do que estamos falando. Se eu tenho um negócio estabelecido é possível que produtos sejam adquiridos como soluções prontas de marcado. Ocorre que raramente produtos são simplesmente adquiridos e colocados em produção com sucesso; Mas sim precisam ser adaptados, configurados ou parametrizados, além do treinamento aos usuários. Por conta disso costuma-se fazer um projeto para a implantação do produto.

Custos indiretos ou diretos

A escolha entre desenvolver internamente ou adquirir soluções prontas demanda uma análise minuciosa. Muitos acreditam que a compra de software pronto, ou mesmo a adoção de soluções de código aberto, é a alternativa mais econômica, mas essa assertiva nem sempre se sustenta. É bom analisar o portfólio de projetos da equipe para ver se há capacidade de gerar valor no prazo desejado.

Desenvolver sistemas internamente pode ser trabalhoso, enquanto soluções prontas podem tornar-se elefantes brancos. A análise do Custo Total de Propriedade (Total Cost of Ownership ou TCO), considerando custos indiretos, é talvez mais importante e essencial do que os diretos, para tomar essa decisão. Soluções prontas frequentemente exigem alguma codificação, interação entre equipes e, em última instância, mais mão de obra interna do que o desenvolvimento interno.

O essencial é invisível se não treinar o olhar

A decisão entre comprar e desenvolver deve ser orientada pelo dinheiro deixado na mesa quando alocamos recursos técnicos em um projeto em detrimento de outro. A compra pode ser uma opção viável para atividades menos cruciais, como aquelas associadas às fases Grow e Run. Por outro lado a equipe interna deve gastar sua energia em construção de diferenciais competitivos e inovação, ou seja, projetos do tipo Transform.

A utilização de ferramentas de prateleira deve ser feita com discernimento, pois isso acaba nivelando a empresa a seus concorrentes, removendo o diferencial competitivo. A constante evolução do cenário tecnológico (por exemplo, com ChatGPT e outras ferramentas de IA) demonstra a importância de pensar na estratégia primeiro e entender quando o desenvolvimento interno é crucial para manter a inovação e a diferenciação no longo prazo.

Conclusão de Desenvolver na empresa ou comprar pronto?

Para finalizar, em um mundo onde a inovação se tornou a palavra de ordem, a decisão estratégica entre desenvolver internamente e adquirir soluções prontas é um desafio de todas as organizações. Então, a diversidade de demandas, desde iniciativas estratégicas até serviços contínuos, destaca a necessidade de uma abordagem flexível e contextualizada. Assim, o modelo Run-Grow-Transform oferece uma estrutura útil para classificar essas demandas, permitindo que as empresas direcionem seus esforços de maneira mais eficaz.

Ao ponderar sobre “fazer ou comprar”, as empresas devem ir além dos custos diretos e considerar a implicação estratégica a longo prazo. A decisão não é uma escolha única, mas sim uma série de decisões ao longo do tempo, moldadas pela visão da empresa e sua busca constante pela inovação. Então, de modo geral, com adequadas ponderações, iniciativas de transformação (transformation) sempre devem ser feitos em casa; iniciativas de crescimento (grow) podem ser produtos prontos; iniciativas de continuidade da operação (run) devem ser produtos prontos.


Thiago Anselme
Thiago Anselme - Gerente de TI - Arquiteto de Soluções

Ele atua/atuou como Dev Full Stack C# .NET / Angular / Kubernetes e afins. Ele possui certificações Microsoft MCTS (6x), MCPD em Web, ITIL v3 e CKAD (Kubernetes) . Thiago é apaixonado por tecnologia, entusiasta de TI desde a infância bem como amante de aprendizado contínuo.