Como funciona a criação bitcoins ‘do nada’?

Sempre ouço essa pergunta quando se refere aos bitcoins. Quando eu explico que compro bitcoins com real ou dólar as pessoas entendem com facilidade. Mas quando digo que posso minerar bitcoins e gerar valor com isso, nem sempre sou entendido. Vou tentar explicar, de uma maneira resumida, como esse processo acontece.

Para começar é importante entender, de maneira geral, como se dá o valor do dinheiro. Todos sabemos que a comercialização de produtos ou serviços, no início da civilização humana, se dava através de escambo: troca direta de uma coisa por outra. Trocar feijão por banana poderia ser complicado porque nem sempre as pessoas queriam banana. Apenas trocavam porque queriam outros itens. Com o passar dos tempos alguns itens foram se especializando apenas para facilitar a troca entre as pessoas. Foi assim com o sal (que dá origem a palavra salário), com o bronze, a prata, o ouro, entre outros.

O ouro merece um destaque quando se fala na história das moedas. Até pouco tempo para cada dólar americano que existia, o estado estocava uma quantidade de ouro equivalente. Desse modo, se a economia tinha 1 bilhão de dólares em circulação, o estado tinha 1 bilhão em reserva de ouro. Esse fenômeno era chamado de padrão ouro. E nesse caso se dizia que o dólar tinha o seu lastro em ouro.

Entretanto o presidente Nixon removeu o lastro do ouro. Ou seja, o estado não precisava mais ter reservas em ouro para cada dólar em circulação. Para gerar mais dólares, nesse novo cenário, não dever-se-ia ter mais ouro, mas ao contrário bastava uma assinatura do governante. A moeda passou a ser, então, uma moeda fiat ou moeda fiduciária. ( o real é uma moeda fiat).

Uma moeda fiat é baseada na confiança. Se as pessoas confiam no estado para a emissão de moeda, então essa moeda tem valor. Ela não precisa ter lastro! Uma moeda fiduciária pode gerar dinheiro ‘do nada’. (Nesse artigo não vou explicar as consequências de se usar uma moeda fiat).

O bitcoin se assemelha ao ouro. Ele tem em sua natureza a facilitação dos processos de troca como moeda: ele não pode ser falseado, ele é durável e ele tem uma oferta limitada. O ouro é virtualmente finito! Chegará um momento que nenhum garimpo funcionará mais por deixar de ser rentável.

Os bitcoins não são encontrados na natureza, como o ouro, mas sofrem um processo chamado de mineração. Vamos entender!

Após uma operação de troca de bitcoins entre carteiras, o registro da operação deve ser guardado em todos os full nodes (computadores que instalam o servidor do bitcoin). Além disso, as operações precisam ser validadas e devidamente criptografadas por miners (servidores de bitcoin específicos). Os miners que forem capazes de validar as operações e de criptografar seus dados no período de 10 minutos será premiado de dois modos: Ganhará bitcoins ‘do nada’ e ganhará o valor das taxas sobre as transações ocorridas.

Quando um miner valida as operações dos últimos 10 minutos com sucesso ocorre uma operação de Coinbase e mais bitcoins são emitidos na rede. O miner ganha esse prêmio e pode utilizar à vontade na rede. Quando o bitcoin foi criado, em 2008, o prêmio era de 50 BTC. Atualmente, em 2017 quando escrevo o artigo, o valor é de 25 BTC.

O valor em BTC que pode ser ganhado na operação de coinbase é reduzido pela metade a cada período de 210 mil operações de validação da rede.

Os miners ganham um segundo prêmio se minerarem com sucesso. O primeiro prêmio é o coinbase e o segundo é a taxa de transação. Toda vez que uma quantidade de bitcoins é movida de uma carteira para outra uma taxa deve ser paga. Essa taxa é um valor a escolha das pessoas que participam da operação. O miner prioriza as taxas mais altas, com isso, operações com taxa baixa podem demorar mais do que 10 minutos para ocorrer. (Em alguns casos pode demorar bem mais do que isso).

A recompensa em bitcoins através da coinbase é reduzida, em média, em 50% a cada ~4 anos. É previsto que a oferta de bitcoins se encerre no ano 2140, chegando assim a oferta máxima da moeda, com o valor de 21 milhões de BTC.