Aprender a aprender

Aprender a aprender é, no fundo, a habilidade que sustenta todas as outras. Então, entender como a memória se forma, reconhecer a importância dos intervalos, adotar dificuldades desejadas, organizar o conhecimento de maneira estruturada e respeitar os próprios ritmos de estudo são práticas que transformam o aprendizado em algo sólido e duradouro. Assim, mais do que seguir fórmulas rígidas, o verdadeiro crescimento intelectual acontece quando conseguimos ajustar métodos ao nosso contexto, combinando teoria e prática de maneira consciente. Ao dominar essas técnicas, deixamos de ser meros receptores de informações e nos tornamos protagonistas do nosso próprio desenvolvimento.

Vivemos em um momento em que o volume de informação cresce exponencialmente, mas a capacidade de transformar tudo isso em conhecimento útil continua limitada: e é exatamente aí que entra a importância de aprender a aprender. Mais do que decorar conceitos ou seguir fórmulas prontas, dominar o processo de aprendizado é compreender como a memória funciona, como se estruturam os ciclos de retenção, e como organizar o conhecimento de forma inteligente e duradoura. Assim, aqui no artigo Aprender a aprender, exploramos desde os fundamentos neurocientíficos da memória até modelos como DIKW e SECI, passando por estratégias práticas que ajudam a transformar o ato de estudar em algo verdadeiramente eficaz e sustentável.

Tirinha que resumo todo o artigo sobre Aprender a aprender. Insetos discutem que há um método para fixar o conhecimento e outros defendem que a evolução natural chega e é só esperar. Mas, eles acabam sendo devorados por que precisam é de prática.

Mas, além desse artigo, aqui no blog também temos diversos outros artigos sobre kubernetes, desenvolvimento, gestão, devops, etc. Veja alguns exemplos: Diferenças entre Paradigmas, Axiomas e HipótesesDesenvolver na empresa ou comprar prontoFuja da otimização prematura, entre outros.

1 – O que é memória?

A memória é a capacidade que o cérebro humano tem de adquirir, armazenar e recuperar informações. Ela é a base de todo o aprendizado, da construção da identidade pessoal e do desenvolvimento da inteligência.

A memória é a capacidade de conservar estados de consciência passados e de reproduzi-los.

Hermann Ebbinghaus, 1885, “Über das Gedächtnis” (“Sobre a Memória”)

Infográfico que explica o funcionamento da memória no artigo Aprender a aprender

A memória é um processo dinâmico que envolve três grandes etapas: codificação, armazenamento e recuperação. A codificação acontece quando o cérebro interpreta estímulos — como sons, imagens e palavras — e os transforma em representações internas. Depois, vem o armazenamento, onde essas informações são guardadas em estruturas cerebrais específicas, podendo permanecer por poucos segundos ou por toda a vida. Finalmente, na etapa de recuperação, o cérebro acessa essas informações armazenadas sempre que necessário, seja para lembrar uma senha ou resolver um problema.

Curva do esquecimento

Antes do século XIX, a memória era tratada apenas de forma filosófica, quase intuitiva. Foi o psicólogo alemão Hermann Ebbinghaus quem trouxe o primeiro estudo experimental sobre o tema. Ele conduziu experimentos em si mesmo, criando listas de sílabas sem sentido (como “WUQ”, “QEH”, “KIJ”, etc.) para estudar a memória de forma neutra, sem interferência de significados. Ele media o tempo que levava para aprender e relembrar essas listas ao longo dos dias.

Aprender a aprender e o diagrama clássico da curva de esquecimento do Hermann Ebbinghaus

A partir desses experimentos, surgiu a famosa Curva do Esquecimento. Ebbinghaus mostrou que a maior parte do que aprendemos se perde rapidamente nas primeiras 24 horas, caso não haja revisão. Essa descoberta fundamentou métodos modernos de estudo, como a repetição espaçada.

Química do cérebro

Além das questões de cunho psicológico há toda uma questão química do cérebro que não pode ser desprezada. Neurotransmissores como a acetilcolina são fundamentais para o bom funcionamento da memória. E veja que estudar exageradamente pode esgotar sua acetilcolina e, consequentemente, reduzir sua capacidade de memorizar e de fixar atenção. Listo a seguir vários neutrotransmissores que têm várias funções, mas a memória tem destaque.

Principais neurotransmissores ligados à memória.

2 – Aprendendo a aprender

Particularmente gosto muito de estudar e aprender coisas diferentes. Hoje atuo como gerente de TI e estudo um pouco de tudo, inclusive neurociência, ainda que aplicando à gestão. O problema é estudar demais a ponto de gastar energia atoa.

Veja que o estudo de Hermann Ebbinghaus foi o primeiro a demonstrar cientificamente o comportamento da memória ao longo do tempo. Ele formulou a Curva do Esquecimento, que mostra como a retenção cai rapidamente nos primeiros dias após o aprendizado. Mas ele fez isso com sílabas sem sentido, mas o conceito não vale para qualquer conhecimento. Quando há forte carga de significado associado ao estudo, isso muda consideravelmente. Além disso, ele não fez uma pesquisa com várias pessoas, mas apenas com ele mesmo.

Apesar disso, muita gente transformou o modelo de Ebbinghaus numa receita de bolo e vende a ideia de que você deve revisar exatamente após 24 horas, depois 7 dias, depois 30 dias. Isso pode funcionar para alguns casos, mas nem sempre.

A Dificuldade Desejada

Em conteúdos com profundidade e significado — como programação, filosofia, arquitetura de software — o ideal não é simplesmente repetir. É aplicar o que o psicólogo Robert Bjork chamou de “dificuldade desejada” (desirable difficulty): faça o resgate da informação um pouco difícil, mas possível.

Essa leve carga estimula a consolidação do conhecimento. Ou seja, em vez de revisar algo logo em seguida, deixar um tempo passar (lembrando ativamente) fortalece a memória. Quando é fácil demais não funciona, e quando é difícil demais desestimula. Por isso a repetição de 24h, 7d e 30d pode ser uma furada, dependendo de cada pessoa.

Definindo o espaçamento

Nesse sentido precisamos estabelecer que cada pessoa tem um ritmo diferente. E cada tipo de conteúdo também. A melhor frequência de espaçamento depende da complexidade, do nível de familiaridade com o assunto, da capacidade de evocação daquele conteúdo e até de como as inteligências individuais se estabelecem (junto à sua química).

Ferramentas como o Sistema Leitner (conhecido como sistema de flashcards) e o uso de feedback corretivo (verificar imediatamente se sua resposta está certa ou não) ajudam a personalizar esse ciclo de revisão. Mais importante que repetir automaticamente é repetir com inteligência: com um ciclo de esquecer um pouco + resgatar com esforço + ajustar conforme a resposta.

Alternância entre teoria e prática

Outra estratégia que gosto muito é alternar teoria e prática. Estudar apenas teoria tende a criar uma ilusão de aprendizado, onde você entende, mas não sabe aplicar. Por outro lado, só praticar sem entender pode te transformar num executor mecânico. Infelizmente as empresas hipervalorizam o extremo prático. Se o profissional não se der conta, rapidamente será desnecessário, porque o mercado valoriza algo mais flexível.

Digo que é fundamental para melhor fixação do conhecimento seguir duas frentes: uma conceitual e outra operacional. É como aprender a programar: você entende o que é um for, mas só internaliza quando escreve, erra, refatora e faz sentido com seu contexto particular.

3 – Métodos para aprender a aprender

Modelo DIKW

Aprender é mais do que acumular fatos: é transformar dados em sabedoria aplicável. Para isso, o modelo DIKW (Data, Information, Knowledge, Wisdom) é uma ferramenta muito conhecida e amplamente usada na gestão do conhecimento, tecnologia da informação e educação. A estrutura do DIKW é uma pirâmide hierárquica, que representa quatro níveis de maturidade do conhecimento.

Pirâmica DIKW

Modelo SECI

Se o DIKW organiza o que você sabe, o Modelo SECI, criado por Ikujiro Nonaka e Hirotaka Takeuchi, mostra como o conhecimento é criado, compartilhado e internalizado.

Método SECI

O modelo SECI descreve o aprendizado como um ciclo dinâmico e contínuo, composto por quatro fases:

  1. Socialização – Aprender por observação, prática conjunta ou convivência. É o aprendizado tácito, que passa sem palavras, como ver alguém experiente usando uma ferramenta.
  2. Externalização – Transformar esse conhecimento tácito em palavras, modelos, manuais ou códigos. É quando você explica, escreve, ensina ou documenta.
  3. Combinação – Misturar diferentes conhecimentos explícitos para gerar algo novo. Por exemplo, combinar um padrão de design com um framework técnico.
  4. Internalização – Aplicar o que foi aprendido e transformar em competência prática. Aqui o conhecimento volta a ser tácito, mas agora é seu.

Esse modelo é essencial para quem quer reaprender, reestruturar ou compartilhar conhecimento em equipes. Ao escrever um artigo, ensinar um colega ou fazer pair programming, você está atuando nos ciclos do SECI. Veja que o processo é contínua em espiral. Quanto mais você circula entre esses estágios, mais profundo e durável é o aprendizado, não apenas para o indivíduo para para toda uma organização.

Conclusão de Aprender a aprender

Aprender a aprender é, no fundo, a habilidade que sustenta todas as outras. Então, entender como a memória se forma, reconhecer a importância dos intervalos, adotar dificuldades desejadas, organizar o conhecimento de maneira estruturada e respeitar os próprios ritmos de estudo são práticas que transformam o aprendizado em algo sólido e duradouro. Assim, mais do que seguir fórmulas rígidas, o verdadeiro crescimento intelectual acontece quando conseguimos ajustar métodos ao nosso contexto, combinando teoria e prática de maneira consciente. Ao dominar essas técnicas, deixamos de ser meros receptores de informações e nos tornamos protagonistas do nosso próprio desenvolvimento.


Thiago Anselme
Thiago Anselme - Gerente de TI - Arquiteto de Soluções

Ele atua/atuou como Dev Full Stack C# .NET / Angular / Kubernetes e afins. Ele possui certificações Microsoft MCTS (6x), MCPD em Web, ITIL v3 e CKAD (Kubernetes) . Thiago é apaixonado por tecnologia, entusiasta de TI desde a infância bem como amante de aprendizado contínuo.

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